Graciano (ES) / Tinta-Miúda (PT)
Variedade: Tinta | Categoria II | Portugal/Espanha
Ficha da Casta
Graciano
Tinta-Miúda
Origem da casta: Desconhecida.
Existe em países outrora pertencentes ao Império Romano, suspeitando-se de que a casta seja proveniente desta época. Entretanto, contrariamente a Espanha, a intravariabilidade desta casta em Portugal permite pensar que tem um reduzido passado na sua viticultura. A primeira referência é de Rojas Clemente (1807), com a denominação “Tintilla”. Vila Maior (1875) e Lapa (1874) referem a Tinta do Padre António (sinónimo).
Região de maior expansão: Em Espanha, no País Basco, La Rioja, Navarra e Vale do Ebro. Em Portugal, na Estremadura, onde foi plantada – conforme comunicação pessoal de técnicos da região –, pela primeira vez, na Quinta de Calhorda, em são Domingos de Carmões (sobral de Monte Agraço), por um padre chamado António. Encontra-se, ainda, na Argélia, Austrália, Califórnia e Argentina.
Sinónimos oficiais (nacional e OIV): Graciano (E), Cagnulari (I), Morastel (SU); Morrastel (AU, DZ, F); Xeres (Califórnia).
Sinónimos históricos e regionais: Tinta do Padre António, Xerez (quando desavinha muito, na versão popular), Tintilla (E), Gros Nègrette (F), Minostello (Córsega).
Homónimos: Desconhecidos.
Superfície vitícola actual: Portugal 550 ha, Espanha 1.816 ha.
Utilização actual a nível nacional: Não se planta em Portugal, há alguma procura em Espanha.
Tendência de desenvolvimento: Inexistente ou muito baixa; só em zonas de maturação precoce.
Intravariabilidade varietal da produção: Média-alta.
Qualidade do material vegetativo: Em Portugal, material policlonal RNsV. Espanha: Em La Rioja seleccionaram-se alguns clones desta variedade (RJ-57, RJ-58, RJ-62, RJ-97, RJ-103 y RJ-117), tendo-se também começado a seleccionar clones em Navarra.
Caract. Molecular (OIV)
Classificação Regional
Morfologia
Fenologia
Potencial Vegetativo
Potencial Agronómico
Potencial Enológico
Particularidades da casta
VVMD5 | VVMD7 | VVMD27 | VrZag62 | VrZag79 | VVS2 | ||||||
Alelo1 | Alelo2 | Alelo1 | Alelo2 | Alelo1 | Alelo2 | Alelo1 | Alelo2 | Alelo1 | Alelo2 | Alelo1 | Alelo2 |
226 | 238 | 235 | 235 | 179 | 183 | 186 | 188 | 251 | 259 | 141 | 153 |
Vinho de Qualidade DOC: Espanha: DO La Mancha, Manchuela, Navarra, Ribera del Guadiana e Valência. DOCa Rioja. Pagos Vitícola Dominio de Valdepusa e Prado de Irache. Em Portugal: «Encosta de Aire», «Óbidos», «Alenquer», «Arruda», «Torres Vedras», «Ribatejo», «Terras do sado».
Vinho regional: «Estremadura», «Ribatejano».
Extremidade do ramo jovem: Aberta, com pigmentação autociânica média, na orla, e média densidade de pêlos prostrados.
Folha jovem: Avermelhada, página inferior com média densidade de pêlos prostrados.
Flor: Hermafrodita.
Pâmpano: Estriado de vermelho, gomos verdes.
Folha adulta: Média, pentagonal, quinquelobada; limbo verde escuro, plana, bolhosidade média a forte, pág. inf. com média densidade de pêlos prostrados e pêlos erectos que transmitem um toque aveludado; dentes médios e rectilíneos; seio peciolar com lóbulos ligeiramente sobepostos, base em U, seios laterais em U.
Cacho: Médio, cónico, compacto, pedúnculo de comprimento médio.
Bago: Arredondado, pequeno, negro-azul, película medianamente espessa, polpa mole.
Sarmento: Castanho-amarelado, com tons vinosos.
Abrolhamento: Tardio, 15 dias após a Castelão.
Floração: Tardia, 9 dias após a Castelão.
Pintor: Tardio, 10 dias após a Castelão.
Maturação: Tardia, duas semanas após a Castelão.
Vigor: Elevado.
Porte (tropia): Erecto.
Entrenós: Médios.
Tendência para o desenvolvimento de netas: Elevada.
Rebentação múltipla: Muito baixa, deverá ser podada a talão, pois na vara a rebentação é muito heterógenea.
Índice de fertilidade: Médio.
Produtividade: Índice médio-elevado (8-15 t/ha) Valores RNSV: 2,44 kg/pl (média de, no mínimo, 40 cultivares, registada em Bombarral, durante 8 anos).
Estabilidade da produção (diferentes anos e localidades): Regular.
Homogeneidade de produção (entre as plantas): Regular.
Índice de Winkler (somatório de temperaturas activas): 1.430 horas acima de 10° C, com produção de 8 t/ha (Montemor-o-Novo).
Producção recomendada: 5.000 l/ha.
Sensibilidade abiótica: Pouco sensível ao stress hídrico. Não se dá bem com humidade no solo e no ar, prefere climas continentais e solos pobres.
Sensibilidade criptogâmica: Alguma resistência ao Oídio e Antracnose; sensível à Botritis e ao Míldio.
Estado sanitário (sistémico) antes da selecção: 75% GLRaV 3, 5% GLRaV 1, 15% GFlV, <50% RSP.
Sensibilidade a parasitas: à Erinose.
Tamanho do cacho: Médio/grande (170-468 g), dependendo do ambiente.
Compactação do cacho: Compacto.
Bago: Médio, pequeno, 1,4-1,6 g. Perigo de desbagoamento, sobretudo com chuva no período de maturação.
Película: Pouco espessa.
Nº de graínhas: Na média 1,3-2,5 por bago.
Sistema de condução: Qualquer tipo de poda, de preferência, cordão. Adaptava-se muito bem ao gobelet.
Solo favorável para obter qualidade: Adapta-se bem a diferentes tipos de solo.
Clima favorável: Há perigo de falta de maturação em condições de solos férteis e húmidos. Prefere climas quentes e secos.
Compasso: Adapta-se a todos os compassos mais tradicionais.
Porta-enxertos: Boa afinidade com os porta-enxertos comuns, de preferência de ciclo curto.
Desavinho/Bagoinha: Perigo com material não clonal tradicional.
Conservação do cacho após maturação: Sensibilidade à Podridão Cinzenta.
Protecção contra ataques de pássaros: Desnecessária.
Aptidão para vindima mecânica: Boa aptidão; solta bem os bagos.
Tipo de vinho: Vinho de qualidade, de forte coloração, sempre que os rendimentos são moderados e a maturação é completa.
Grau alcoólico provável do mosto: Em média 12-13% vol. (no caso de baixa produção e boa maturação). Valores RNSV: 9,91% vol. (média de, no mínimo, 40 cultivares, registada em Bombarral, durante 2 anos).
Acidez natural: Elevada 5,5-7,5 g/l de acidez tartárica. Valores RNSV: 7,05 g/l (média de, no mínimo, 40 cultivares, registada em Bombarral, durante 2 anos).
Autocianinas totais: Valores RNSV: 837,8 mg/l (média de, no mínimo, 40 cultivares, registada em Bombarral, durante 2 anos).
Índice de polifenóis totais (280nm) do mosto: Valores RNSV: 19,47 (média de, no mínimo, 40 cultivares, registada em Bombarral, durante 2 anos).
Sensibilidade do mosto à oxidação: Sim.
Intensidade da cor: Cor intensa.
Tonalidade: Granada-avermelhada.
Taninos: Monomérico 76,2 mg/l; Oligom. 205,6 mg/l; Polim. 479,5 mg/l.
Índice de polifenóis totais (280nm) do vinho: 26-38
Sensibilidade do vinho à oxidação: Média.
Análise laboratorial dos aromas: Não estudado.
Capacidade de envelhecimento do vinho: Muito boa, com particular apidão para envelhecimento em madeira.
Recomendação para lote: Aragonez, Castelão.
Potencial para vinho elementar: Possível.
Caracterização habitual do vinho: Os vinhos são de cor intensa, encorpados, com adstringência que se vai atenuando com o envelhecimento, tornando-se vinhos muito agradáveis, com destaque para o bouquet que exibem (Ghira, 2004).
Qualidade do vinho: Pode ser muito elevada, sendo de procurar alguma sobrematuração
com a presença de passas. Tem boa capacidade de envelhecimento.
Particularidade da casta: Casta provavelmente introduzida a partir do Norte de Espanha, devido à sua excelente coloração. Casta de abrolhamento tardio, beneficiando em zonas de geada na Primavera. Vinho de boa cor, encorpado e com boa capacidade de envelhecimento. Requer, nas zonas de produção, temperaturas elevadas, com verões prolongados. Em ensaios experimentais realizados no Alentejo, os vinhos atingiram uma sobrematuração extremamente favorável.