Alfrocheiro (PT)

Variedade: Tinta | Categoria II | Portugal

Ficha da Casta

Alfrocheiro

Origem da casta: Casta de origem desconhecida, apareceu no último século. Na literatura antiga, apenas se encontra referência a uma casta branca com este nome. Rebello (1790: 335) conhece esta casta no Douro, na Bairrada e na Estremadura. Devido à sua baixa intravariabilidade genética, suspeita-se de que seja uma casta jovem ou, como outros autores referiram, uma casta importada. Truel (1983) não acredita que seja parente da família Pinot, com a qual as folhas têm uma certa semelhança, e acredita que o sinónimo Tinta Francisca de Viseu, provavelmente, é por engano. O Alfrocheiro apareceu no Dão depois da filoxera; posteriormente, no Alentejo, devido à sua intensidade de cor para compensar a Moreto. surge também no Ribatejo e na Bairrada. Entretanto, por análise molecular, sabe-se que o Alfrocheiro Preto exista em Espanha com outra denominação: “Baboso Negro” em Tenerife, “Albarín Negro” em Oviedo; “Bastardo Negro” em Tenerife; “Bruñal” em Zamora; “Caiño Gordo” em Pontevedra.

Região de maior expansão: Dão.

Sinónimos oficiais (nacional e OIV): Não há.

Sinónimos históricos e regionais: Alfurcheiro, Alfrocheiro Preto, Tinta Bastardinha (ex. n.o 289), Tinta Francisca de Viseu.

Homónimos: Telles (1790) e também Vila Maior (1875) descrevem uma casta branca. Segundo Aguiar (1866), a casta Alfrocheiro Branco tinha o sinónimo histórico de Douradinho.

Superfície vitícola actual: 1.850 ha. Espanha: 60 ha.

Utilização actual a nível nacional: 3,3%.

Tendência de desenvolvimento: Crescente.

Intravariabilidade varietal da produção: Média-baixa

Qualidade do material vegetativo: Material policlonal RNsV; clone certificado 41 JBP.

VVMD5 VVMD7 VVMD27 VrZag62 VrZag79 VVS2
Alelo1 Alelo2 Alelo1 Alelo2 Alelo1 Alelo2 Alelo1 Alelo2 Alelo1 Alelo2 Alelo1 Alelo2
226 238 249 253 179 189 188 200 251 251 145 153

Vinho de Qualidade DOC: «Bairrada», «Dão», «Granja», «Amareleja», «Borba», «Évora», «Moura», «Redondo», «Vidigueira».

Vinho regional: «Minho», «Beiras», «Estremadura», «Ribatejano», «Terras do sado», «Alentejano». Espanha: DO El Hierro, Gran Canaria e La Gomera.

Extremidade do ramo jovem: Forma aberta, pigmentação antociânica de média intensidade.

Folha jovem: Cor da página superior verde esbranquiçado; intensidade média da pigmentação antociânica das 6 primeiras folhas fraca, intensidade das nervuras variando entre nula e intensa, conforme localização.

Flor: Hermafrodita.

Folha adulta: Tamanho médio, forma do limbo orbicular, n.º de lóbulos inteiro, cor da página superior do limbo verde-médio, perfil involuto, ausência de ondulação do limbo entre as nervuras principais, dentes pequenos e convexos, seio peciolar com lóbulos ligeiramente sobrepostos. Pigmentação antociânica das nervuras principais fraca.

Bago: Tamanho pequeno, uniforme, arredondado, de cor uniforme negro-azul, espessura da película média, polpa sem cor, consistência mole e suculenta.

Sarmento: Secção transversal elíptica, castanho-amarelado, ausência de lentículas.

Abrolhamento: 2.ª Quinzena de Março. Cerca de 2 dias após a Castelão.

Floração: Final de Maio, um dia após a Castelão.

Pintor: 2.ª Quinzena de Julho. Cerca de 7 dias após a Castelão.

Maturação: 2.ª Quinzena de Setembro. Cerca de 5 dias após a Castelão.

Vigor: Médio/vigoroso.

Porte (tropia): Semi-erecto.

Entrenós: Médio e regular.

Tendência para o desenvolvimento de netas: Média.

Rebentação múltipla: Alguma.

Índice de fertilidade: Médio, cerca de 1,37 inflorescências por gomo abrolhado. (Araújo, 1982).

Produtividade: Índice de produtividade = 246 (Araújo 1982). No caso de clones, é elevada (10- 15.000 kg/ha). Valores RNsV: 1,51 kg/pl (média de, no mínimo, 40 cultivares, registada em Mangualde, durante 7 anos).

Estabilidade da produção (diferentes anos e localidades): Média, em cultura de regadio, ligeiramente alternante após ano de grande produtividade; em cultura de sequeiro, muito regular.

Homogeneidade de produção (entre as plantas): Uniforme.

Índice de Winkler (somatório de temperaturas activas): 1.650 horas activas com 12,5 t/ha de produção (Montemor-o-Novo).

Producção recomendada: No máximo, 5.000 l/ha.

Sensibilidade abiótica: Carência de Boro, susceptível ao stress hídrico.

Sensibilidade criptogâmica: Medianamente susceptível ao Míldio, Oídio, muito sensível à Botritis, sensível à Esca.

Estado sanitário (sistémico) antes da selecção: 30% GLRaV3, 30% GFkV, < 50% RsPV.

Sensibilidade a parasitas: Alguma à Cigarrinha Verde.

Tamanho do cacho: Pequeno (cerca de 100 g).

Bago: Pequeno, não uniforme na dimensão (1,1 g), arredondado, com destacamento fácil.

Película: Pouco espessa, o bago engelha com o stress hídrico.

Nº de graínhas: Em média 1,8 por bago.

Sistema de condução: Adapta-se a qualquer tipo de poda; devido a boa fertilidade nos gomos basais, recomenda-se a poda curta.

Solo favorável para obter qualidade: Arenoso, pouco fértil. Não se dá bem em solos compactos argilosos.

Clima favorável: Não suporta stress hídrico com elevada insolação.

Compasso: Normal. Não são conhecidas incompatibilidades ou problemas com os compassos tradicionais.

Porta-enxertos: Não são conhecidos problemas com os porta-enxertos tradicionais.

Desavinho/Bagoinha: Pouco afectada.

Conservação do cacho após maturação: Perigo de degradação do cacho por podridão e engelhamento do bago.

Protecção contra ataques de pássaros: Pouca necessidade.

Aptidão para vindima mecânica: Somente em situações de temperatura baixa.

Tipo de vinho: Vinho de qualidade e vinho rosado no caso de baixa graduação.

Grau alcoólico provável do mosto: Teor médio (11-14% vol.); problemas no caso de excesso de produção. Valores RNSV: 12,48% vol. álcool (média de, no mínimo, 40 cultivares, registada em Mangualde, durante 7 anos).

Acidez natural: Em zona seca e quente, média (4,0-5,5 g/l); no Dão, 6 -7 g/l. Valores RNSV: 6,06 g/l (média de, no mínimo, 40 cultivares, registada em Mangualde, durante 7 anos).

Autocianinas totais: Valores RNsV: 564,25 mg/l (média de, no mínimo, 40 cultivares, registada em Mangualde, durante 7 anos).

Índice de polifenóis totais (280nm) do mosto: Valores RNSV: -22,97 (média de, no mínimo, 40 cultivares, registada em Mangualde, durante 7 anos).

Sensibilidade do mosto à oxidação: Frequente.

Intensidade da cor: Média/elevada (4,00).

Tonalidade: 0,83.

Índice de polifenóis totais (280nm) do vinho: 24,9.

Sensibilidade do vinho à oxidação: Pouca.

Análise laboratorial dos aromas: Análises de vinhos do Alentejo (Barbosa, Hogg, 2003) mostraram valores superiores a outras castas, observados em terpenóides (11 μg/l Linalol, 5,2 μg/l Citronellol, 3,7 μg/l Nerol, 4,4 μg/l Geraniol).

Capacidade de envelhecimento do vinho: Em zona quente e seca, tem média longevidade, dificilmente aguentando mais de 5 anos; no Dão, boa longevidade.

Recomendação para lote: Bastardo e Tourigas. Potencial para vinho elementar: Muito bom, com marcas no Alentejo, Dão e Ribatejo.

Caracterização habitual do vinho: «Especialmente os vinhos jovens, que apresentam uma cor granada intensa, com reflexos violáceos, um aroma frutado forte e um sabor delicado, onde os taninos macios e cheios estão em grande equilíbrio com acidez, permitem um beber agradável e fácil. Com a idade, os vinhos evoluem depressa, tanto na cor, que passa a vermelho rubi, como no aroma, que perde as notas de fruta e ganha complexidade» (Laureano, 1999).

Qualidade do vinho: Com elevada potencialidade, mas, em casos de produção muito alta, a qualidade é média.

Particularidade da casta: Deve evitar-se o excesso de produção, sobretudo nos primeiros anos, pois esta situação leva a uma deficiência na produtividade, ao longo da vida útil da planta. A planta tem ainda sensibilidade ao escaldão; na fase final da maturação, surgem também frequentemente cachos imaturos devido a frequente segunda floração. Na fase de sobrematuração, o bago engelha, não devendo dar uma produção muito grande.

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