Arinto (PT)
Variedade: Branca | Categoria I | Portugal
Ficha da Casta
Arinto
Origem da casta: Alarte (1712) já refere a sua excelente qualidade; Brothero (1788) refere os bagos pequenos e a elevada acidez; Telles (1790) conhece esta casta na Beira, no Douro e na Estremadura; Lobo (1790), no Minho, com o sinónimo Pedernã; Lapa (1866/7) refere Évora, Arruda, Torres Vedras, Colares e Carcavelos; Menezes (1900) refere Bucelas e Portalegre.
Região de maior expansão: Todo o país.
Sinónimos oficiais (nacional e OIV): Pedernã.
Sinónimos históricos e regionais: Pedernão (Douro), Arinto de Bucelas, Arintho, Val de Arintho; Chapeludo (em Castelo de Paiva e Cinfães), Pedreña (Es); Vila Maior e o seu colega francês Pulliat presumiram, devido à semelhança do vinho, que o Arinto seria o Riesling (casta alemã), o que já foi contestado por Carvalho (1912).
Homónimos: Arinto do Interior (N.º 23 conforme port. 428), Arinto Roxo (N.º 24 conforme port. 428), Arinto Açores (denominação errada, trata-se do Terrantez da Terceira (N.º 283 conforme port. 428).
Superfície vitícola actual: 5.900 ha.
Utilização actual a nível nacional: 1,6%.
Tendência de desenvolvimento: Em ligeira expansão.
Intravariabilidade varietal da produção: Média-alta.
Qualidade do material vegetativo: Material policlonal RNSV, clones certificados
36-40 EAN; 34, 35 e 107 JBP.
Caract. Molecular (OIV)
Classificação Regional
Morfologia
Fenologia
Potencial Vegetativo
Potencial Agronómico
Potencial Enológico
Particularidades da casta
VVMD5 | VVMD7 | VVMD27 | VrZag62 | VrZag79 | VVS2 | ||||||
Alelo1 | Alelo2 | Alelo1 | Alelo2 | Alelo1 | Alelo2 | Alelo1 | Alelo2 | Alelo1 | Alelo2 | Alelo1 | Alelo2 |
226 | 238 | 239 | 247 | 181 | 185 | 186 | 188 | 247 | 251 | 145 | 153 |
Vinho de Qualidade DOC: «Vinho Verde», «Douro», «Távora-Varosa», «Bairrada», «Beira Interior», «Óbidos», «Alenquer», «Arruda», «Torres Vedras», «Bucelas», «Ribatejo», «Palmela», «Setúbal», «Alentejo» com as sub-regiões «Borba», «Évora», «Moura», «Redondo», «Reguengos», «Vidigueira».
Vinho de qualidade IPR: «Lafões», «Encostas de Aire», «Alcobaça», sub-regiões dos Açores.
Vinho regional: «Minho», «Trás-os-Montes», sub-regiões das «Beiras», «Estremadura», «Ribatejano», «Terras do Sado», «Alentejano», «Algarve»; «Açores».
Extremidade do ramo jovem: Aberta, com orla carmim fraca, forte densidade de pêlos prostrados.
Folha jovem: Verde com placas acobreadas, página inferior com forte densidade de pêlos prostrados.
Flor: Hermafrodita.
Pâmpano: Com estrias avermelhadas na face dorsal dos nós e entrenós, gomos verdes.
Gavinhas: Comprimento médio, distribuição regular descontínua, com fórmula 0-2.
Folha adulta: Grande, pentagonal, sub-trilobada; limbo verde-claro, irregular, medianamente empolado, com enrugamento, página inferior aveludada, com média densidade de pêlos prostrados e forte de pêlos erectos; dentes curtos e convexos; seio peciolar fechado, em V.
Cacho: Grande, cónico com várias asas, compacto, pedúnculo de comprimento médio.
Bago: Elíptico-curto, pequeno e verde-amarelado; película medianamente espessa, polpa mole.
Sarmento: Castanho-escuro.
Abrolhamento: Tardio, 9 dias após Fernão Pires.
Floração: Época média, 5 dias após Fernão Pires.
Pintor: Tardio, 16 dias após a Fernão Pires.
Maturação: Tardia, duas semanas após a Fernão Pires.
Vigor: Muito elevado.
Porte (tropia): Erecto, algumas varas finais horizontais (plagiotropo) e muito comprido.
Entrenós: Varia, de médios a grandes, alguns com nós volumosos.
Tendência para o desenvolvimento de netas: Alguma, no caso de varas de ponta grossa.
Rebentação múltipla: Muito rara.
Índice de fertilidade: Baixa, em média 0,8 inflorescências por gomo abrolhado. Só apresenta um cacho por cada lançamento, no caso de material não seleccionado.
Produtividade: Muito baixa no material tradicional; em clones certificados, a produtividade é muito elevada (10-15 t). Valores RNSV: 1,39 kg/pl (média de, no mínimo, 40 cultivares, registada em Sesimbra, durante 5 anos).
Estabilidade da produção (diferentes anos e localidades): Regular, mas nas vinhas mal conduzidas pode privilegiar a produção de lenha e tornar-se aneira.
Homogeneidade de produção (entre as plantas): Constante.
Índice de Winkler (somatório de temperaturas activas): 1.229 h acima de 10° C (Arcos de Valdevez); 1.400 h acima de 10° C com 14 t/ha de produção (Montemor-o-Novo).
Produção recomendada: 4.500 até 8.000 l/ha conforme as regiões.
Sensibilidade abiótica: Sensível ao vento, antes da floração, e a solos sem retenção de água.
Sensibilidade criptogâmica: Sensível ao Míldio, Oídio, Escoriose, resistente à Antracnose.
Estado sanitário (sistémico) antes da selecção: 10% GLRaV1; 65% GLRaV3; 5% GLRaV 2+6; 75% GFkV; 5% RRV; <50% RSPV.
Sensibilidade a parasitas: Sensível à Cigarrinha Verde e à Traça no cacho.
Tamanho do cacho: Grande 350-450 g em zona quente; em zona marítima,613-675 g.
Compactação do cacho: Compacto a muito compacto, destacando-se por vezes pequenos sectores.
Bago: Pequeno (0,8-1,5 g), varia com as condições edafo-climáticas e o clone.
Película: Mediamente espessa.
Nº de graínhas: 1,7-2,4 por bago.
Sistema de condução: Mais favorável à produtividade: vara longa. Habitual: cordão bilateral, sendo muito difícil estabelecer e manter um esqueleto bem definido para a condução desejada. Devido às folhas grandes, beneficia com a desfolha precoce para evitar compactação na parra.
Solo favorável para obter qualidade: Solos calcários e ácidos, fundos e húmidos, mas bem drenados, não compactos, com exposição ao Norte.
Clima favorável: Zonas do interior temperadas.
Compasso: Todos os compassos habituais, sem problemas.
Porta-enxertos: Boa afinidade com todos os porta-enxertos tradicionais; no caso de terrenos férteis, utilizar porta-enxertos de baixo vigor.
Desavinho/Bagoinha: Não é susceptível de desavinho. Frequentemente sensível a bagoinha.
Conservação do cacho após maturação: Média, relativamente tolerante à podridão.
Protecção contra ataques de pássaros: Pouco necessária.
Aptidão para vindima mecânica: Boa, com temperaturas moderadas.
Tipo de vinho: Vinho de qualidade, DOC e regional.
Grau alcoólico provável do mosto: Média em regiões marítimas (11% vol) a elevada nas regiões quentes continentais (13% vol). Valores RNSV: 11,53% vol. (média de, no mínimo, 40 cultivares, registada em Mealhada, durante 1 ano).
Acidez natural: Elevada (6-9 g/l total, 1,9 g/l de Ácido Málico, 7 de Ácido Tartárico). Valores RNSV: 7,88 g/l (média de, no mínimo, 40 cultivares, registada em Mealhada, durante 1 ano).
Sensibilidade do mosto à oxidação: Pouca.
Intensidade da cor: Fraca-média.
Tonalidade: Cítrica, podendo ter elevada intensidade no caso de vindima tardia.
Taninos: Monomérico 1,3-1,7 mg/l; Oligom. 1,1-3,7 mg/l; Polim. 4,3-10,9 mg/l.
Índice de polifenóis totais (280nm) do vinho: 93-119 mg/l. Absorção A420: 0,09-0,66 na.
Sensibilidade do vinho à oxidação: Reduzida.
Análise laboratorial dos aromas: Compostos precursores do aroma: Terpenóides ligados totais (Alentejo 1998), 415 μg/l (97), 497 μg/l (98); Benzenóides totais, 472 μg/l (97), 527 μg/l (98); Norisoprenóides totais, 259 μg/l (97), 361 μg/l (98). Os aromas terpénicos livres (Bairrada 2003) também são elevados: Linalol 47,2 μg/l, α-Terpineol 21,3 μg/l, Nerol 17 μg/l, Geraniol μg/l.
Capacidade de envelhecimento do vinho: Elevada; o vinho ganha com o envelhecimento. Boa apidão para envelhecimento em madeira.
Recomendação para lote: Antão Vaz, Gouveio, Malvasia Fina, Fernão Pires, Trincadeira das Pratas, Vital, Síria. De forma geral, beneficia em lote com castas menos ricas em ácidos orgânicos.
Potencial para vinho elementar: Muito alto.
Caracterização habitual do vinho: Tem uma cor cítrica aberta. Aromas de alguma fruta cítrica, por vezes algum mineral, mediamente intensos. Com o decorrer dos anos, desenvolvem-se aromas de mel e querosene. Na boca é acídulo e mostra notas de fruta, com excelente complexidade (P. Laureano).
Qualidade do vinho: Em ambiente de produção adequado, muito alta. Aguiar (1866): «Esta uva, que um escritor estrangeiro, justamente apreciado pelas suas obras sobre o vinho, assevera ser o Riesling do Reno, conserva sempre o ácido suficiente para produzir vinho de grande viveza, capaz de estimular agradavelmente o paladar.».
Particularidade da casta: Uma excelente casta, considerada casta-piloto nacional, embora um pouco rebelde, do ponto de vista cultural, quanto a manter o sistema de condução inicial. Tem, como característica facilmente reconhecível, a desorganização da vegetação, folhas grandes e cachos grandes ou muito grandes, multi-alados, a última casta a abrolhar. Tem uma capacidade de envelhecimento muito elevada, o que é favorável à qualidade do vinho, confere boa acidez, particularemento aos vinhos com base em Loureiro. Desde sempre foi comparada e mesmo confundida com a casta Riesling, da Alemanha. Do ponto de vista enológico, é, sem dúvida, uma das castas brancas portuguesas de maior valor. A casta enologicamente é difícil, devido a problemas na vinificação; recomenda-se a utilização de enzimas.