Fernão-Pires (PT)
Variedade: Branca | Categoria II | Portugal
Ficha da Casta
Fernão-Pires
Origem da casta: Silva (1788) conhece a casta no Douro, nas Beiras e Estremadura. Lobo (1790) em Castelo Branco e Guarda. Internacionalmente classificado na Austrália, Nova Zelândia, Califórnia e África do sul.
Região de maior expansão: Ribatejo.
Sinónimos oficiais (nacional e OIV): Maria Gomes.
Sinónimos históricos e regionais: Gaeiro (Oeste), Maria Gomes (numa parte da Bairrada), Molinho (Setúbal).
Homónimos: Fernão Pires rosado (n.º oficial 126). Aguiar (1866) refere o Fernão Pires de Beco como casta distinta. Actualmente, esta é considerada uma cultivar (clone) da mesma casta, devido à sua forte heliotropia.
Superfície vitícola actual: 17.500 ha.
Utilização actual a nível nacional: 1,2%.
Tendência de desenvolvimento: Significativamente crescente (superior a 2%).
Intravariabilidade varietal da produção: Intermédia.
Qualidade do material vegetativo: Material policlonal RNSV. Clone certificado: 1 JBP e clones: 68-74 EAN.
Caract. Molecular (OIV)
Classificação Regional
Morfologia
Fenologia
Potencial Vegetativo
Potencial Agronómico
Potencial Enológico
Particularidades da casta
VVMD5 | VVMD7 | VVMD27 | VrZag62 | VrZag79 | VVS2 | ||||||
Alelo1 | Alelo2 | Alelo1 | Alelo2 | Alelo1 | Alelo2 | Alelo1 | Alelo2 | Alelo1 | Alelo2 | Alelo1 | Alelo2 |
226 | 240 | 235 | 235 | 183 | 194 | 188 | 194 | 247 | 247 | 147 | 153 |
Vinho de Qualidade DOC: Douro, Távora, Bairrada, Óbidos, Alenquer, Arruda, Torres Vedras, Ribatejo, Palmela.
Vinho de qualidade IPR: Alcobaça, Valpaços, Encostas de Aire.
Vinho regional: Minho, Trás-os-Montes, Beiras em todas as sub-regiões, Estremadura em todas as sub-regiões, Ribatejano, Terras do Sado, Alentejano, Algarve, Açores.
Extremidade do ramo jovem: Aberta, com orla carmim de intensidade média e média densidade de pêlos prostrados.
Folha jovem: Amarela com zonas bronzeadas e página inferior com elevada densidade de pêlos prostrados.
Flor: Hermafrodita.
Pâmpano: Ligeiramente estriado de vermelho, com gomos verdes.
Folha adulta: De tamanho médio, pentagonal, com três lóbulos; limbo verde-escuro, irregular, bolhosidade média, página inferior com média densidade de pêlos prostrados; dentes curtos e convexos; seio peciolar aberto, com a base em U, seios laterais abertos em V.
Cacho: Médio, cónico alado, curto, medianamente compacto, pedúnculo de comprimento médio.
Bago: Arredondado, pequeno e verde-amarelado; película de espessura média, polpa mole.
Sarmento: Castanho-amarelado.
Abrolhamento: Precoce.
Floração: Precoce.
Pintor: Precoce.
Maturação: Precoce.
Vigor: Médio/elevado.
Porte (tropia): Semi erecto e horizontal (plagiotropo). Existe um biótipo diferente desta casta (variação somaclonal) com porte erecto na zona de Santarém, chamado «Fernão Pires do Beco» (Aguiar 1866; Costa, 1900).
Entrenós: Variáveis.
Tendência para o desenvolvimento de netas: Habitual.
Rebentação múltipla: Elevada (39% dos gomos).
Índice de fertilidade: Médio: 1,63 inflorescências por gomo abrolhado (Araújo 1982).
Produtividade: Índice 456 (Araújo 1982). 8-18 t/ ha, conforme ambiente e clone. Valores RNSV: 1,89 kg/pl (média de, no mínimo, 40 cultivares, registada em Almeirim, durante 3 anos).
Estabilidade da produção (diferentes anos e localidades): Pode variar de ano para ano, após excessiva produção.
Homogeneidade de produção (entre as plantas): Constante.
Índice de Winkler (somatório de temperaturas activas): 1.450 h acima de 10° C com 15 t/ha de produção (Montemor-o-Novo).
Producção recomendada: até 8.000 l/ha.
Sensibilidade abiótica: Muito sensível à seca.
Sensibilidade criptogâmica: Já Aguiar (1866) refere a elevada susceptibilidade ao Oídio, em especial ao Oídio tardio.
Estado sanitário (sistémico) antes da selecção: 70% GLRaV3, <50% RSPV.
Sensibilidade a parasitas: Sensível à Traça e à Cigarrinha Verde.
Tamanho do cacho: Médio (165-270 g).
Compactação do cacho: Solto, ligeiramente alado.
Bago: Esférico, de tamanho médio (1,3-2 g, conforme ambiente).
Película: Medianamente espessa.
Nº de graínhas: 2,2-2,5 por bago.
Sistema de condução: Adapta-se a todos os tipos de condução, particularmente ao cordão.
Solo favorável para obter qualidade: Solos profundos bem drenados, de areia tipo Podzol (Pegões), de aluvião e de areia pliocénica (Ribatejo).
Clima favorável: Alta flexibilidade, de moderado até quente, desde que haja humidade no solo.
Compasso: Todos os intervalos habituais são possíveis.
Porta-enxertos: Não se conhecem problemas de afinidade. Deve ser adaptado ao solo.
Desavinho/Bagoinha: Pouca susceptibilidade.
Conservação do cacho após maturação: A casta é muito precoce na maturação, devendo, por isso, ser vindimada antes da sobrematuração (ainda em fase de alto calor), para não perder acidez e frescura.
Protecção contra ataques de pássaros: Devido a amadurecer cedo, precisa de protecção contra o ataque de pássaros.
Aptidão para vindima mecânica: Problemática, devido ao calor na altura da vindima. Recomenda-se vindimar de noite.
Tipo de vinho: Vinho de qualidade e vinho de lote.
Grau alcoólico provável do mosto: Elevado (11,5-13% vol.). Valores RNSV: 11,52% vol. (média de, no mínimo, 40 cultivares, registada em Caldas da Rainha, durante 4 anos).
Acidez natural: Média (4,5-6,5 g/l de acidez total; 0,4 g/l de málica; 4,4 g/l de tartárica). Por vezes, o valor da acidez cai abruptamente (abaixo de 5 g/l) quando o grau alcoólico provável sobe acima dos 12% nas zonas de grande concentração de calor. Valores RNSV: 6,09 g/l (média de, no mínimo, 40 cultivares, registada em Caldas da Rainha, durante 4 anos).
Sensibilidade do mosto à oxidação: Sensível.
Intensidade da cor: Média.
Tonalidade: Cítrica, ligeiramente amarela. Procianidas oligomeras: B1 = 0,5-1,0 mg/l; B2 = 0,5-1,7 mg/l; T2 = 1,4-1,6 mg/l.
Sensibilidade do vinho à oxidação: Sensível, seja na cor (rosada) seja no aroma (terpeno).
Análise laboratorial dos aromas: Compostos precursores do aroma – Abundantes compostos terpénicos, acima de 400 μg/l, com 203,8 μg/l de Linalol, 186 μg/l de α-Terpineol, 9 μg/l de Nerol, e 18,3 μg/l de Geraniol. sensorialmente, confirma-se esta riqueza de aroma. Em zonas quentes, o vinho pode vir a ser enjoativo.
Capacidade de envelhecimento do vinho: Recomenda-se beber o vinho nos primeiros anos, enquanto mantém o aroma frutado. Boa aptidão para envelhecimento em madeira, na condição das uvas não estarem excessivamente maduras.
Recomendação para lote: Arinto, Malvasia Fina, Cerceal Branco, Gouveio, Rabigato, sercial, Jampal, Tália.
Potencial para vinho elementar: Sim.
Caracterização habitual do vinho: Do ponto de vista enológico, é uma casta polémica, adorada por uns, que lhe reconhecem uma grande intensidade aromática que, quando bem explorada, permite a obtenção de vinhos distintos, com boa estrutura e forte personalidade; odiada por outros que referem que, devido à sua falta de acidez, conduz a vinhos chatos e sem longevidade, aromas pesados, muito susceptíveis à oxidação. O carácter mais marcante é, sem dúvida, a natureza e intensidade de aromas, o que a torna talvez uma das mais aromáticas.
Os seus aromas fazem lembrar frutos cítricos doces, como laranja, e flores como mimosa, tília, laranjeira e loureiro (V. Loureiro).
Qualidade do vinho: Varia muito com a região da sua implantação, podendo variar de vinhos frescos, frutados, até vinhos enjoativos; noutro ambiente, por exemplo na Bairrada, há vinhos velhos com excelente frescura.
Particularidade da casta: Casta de grande tradição nas zonas litorais e no Ribatejo. No abrolhamento, distingue-se por abrolhar primeiro com uma cor carmim forte, apresentando a folha adulta uma ondulação típica. A casta é de maturação precoce, elevada graduação alcoólica, baixa acidez e aroma intenso.
A produção varia muito conforme o clone escolhido; a qualidade do vinho varia muito com o factor
edafo-climático. Enquanto nas zonas litorais o vinho se apresenta fresco e frutado, no interior pode-se manifestar com aroma pesado e enjoativo.