Tinto-cão (PT)

Variedade: Tinta | Categoria II | Portugal

Ficha da Casta

Tinto-cão

Origem da casta: Norte do país. Lobo (1790) classifica a casta nas sub-regiões do Douro: Alijó e sabrosa. Fonseca (1790: 39) descreve a casta morfologicamente, mas também reconhece o vinho (1790: 188): «...vinho, que foi reputado muito superior a todos os outros...».

Região de maior expansão: Douro.

Sinónimos oficiais (nacional e OIV): Tinta Cão (Au).

Sinónimos históricos e regionais: Tinto Cam (Fonseca, 1791), Tinta Cam (Vila Maior, 1875).

Homónimos: Desconhecidos.

Superfície vitícola actual: 330 ha.

Utilização actual a nível nacional: 0,73%.

Tendência de desenvolvimento: Muito alto, de uma base baixa.

Intravariabilidade varietal da produção: Média-baixa.

Qualidade do material vegetativo: Material policlonal RNSV. Material clonal em processo de admissão à certificação (RNSV e JBP).

VVMD5 VVMD7 VVMD27 VrZag62 VrZag79 VVS2
Alelo1 Alelo2 Alelo1 Alelo2 Alelo1 Alelo2 Alelo1 Alelo2 Alelo1 Alelo2 Alelo1 Alelo2
232 234 235 259 181 185 186 194 247 251 135 135

Vinho de Qualidade DOC: «Porto», «Douro», «Bairrada», «Dão», «Ribatejo».

Vinho regional: «Trás-os-Montes», «Beiras», «Estremadura», «Terras do sado», «Alentejano».

Extremidade do ramo jovem: Aberta, com fraca pigmentação antociânica na orla e fraca densidade de pêlos aplicados.

Folha jovem: Verde com placas bronzeadas. Página inferior com fraca pilosidade aplicada e média pilosidade erecta.

Flor: Hermafrodita.

Pâmpano: Nós e entrenós com estrias vermelhas na face dorsal, gomos com fraca pigmentação antociânica. Gavinhas longas.

Folha adulta: Grande, pentagonal, com cinco lóbulos; limbo verde claro, com muito fraco empolamento, alguma ondulação; dentes curtos, rectilíneos e convexos; seio peciolar pouco aberto, por vezes com lóbulos ligeiramente sobrepostos, em V, por vezes limitados pela nervura; seios laterais superiores, abertos, em V; página inferior com fraca densidade de pêlos prostrados; pecíolo mais curto do que a nervura principal mediana.

Cacho: Muito pequeno e frouxo. Pedúnculo médio de média lenhificação.

Bago: Médio, arredondado e de tamanho uniforme, negro-azulado; película espessa a fina e medianamente pruinada; polpa não corada, mole e suculenta; pedicelo curto.

Sarmento: Castanho avermelhado.

Abrolhamento: 4 dias após a Castelão.

Floração: 1 dia após a Castelão.

Pintor: 6 dias após a Castelão.

Maturação: Tardia; 1 mês após a Castelão.

Vigor: Elevado.

Porte (tropia): Semi-erecto e horizontal (plagiotropo).

Entrenós: Longos e regulares.

Tendência para o desenvolvimento de netas: Muito fraca, mesmo em varas compridas.

Índice de fertilidade: Médio. Vara do 1.º gomo = 1,53; Vara do 2.º gomo = 1,67; Vara do 3.º gomo = 1,89 inflorescências por gomo abrolhado. Maior fertilidade nas gomos do terço médio da vara.

Produtividade: Baixa (4.000-6.000 kg/ha). Valores RNSV: 1,55 kg/pl (média de, no mínimo, 40 cultivares, registada em Tabuaço, durante 6 anos).

Estabilidade da produção (diferentes anos e localidades): Muito regular.

Homogeneidade de produção (entre as plantas): Uniforme.

Índice de Winkler (somatório de temperaturas activas): 1.900 horas acima de 10° C, com produção de 7 t/ha (Montemor-o-Novo).

Producção recomendada: Menos de 5.000 l/ha.

Sensibilidade abiótica: Sensível a desfolhamento com stress hídrico. Mas os bagos têm boa resistência ao stress térmico e hídrico.

Sensibilidade criptogâmica: Moderadamente sensível ao Míldio e ao Oídio; pouco sensível à podridão e à Escoriose.

Estado sanitário (sistémico) antes da selecção: 45% GLRaV3, <50% RSPV.

Sensibilidade a parasitas: Muito sensível à Cigarrinha Verde.

Tamanho do cacho: Médios e pequenos (100-220 g).

Compactação do cacho: Medianamente compactado.

Bago: Médio (1,1-1,7 g), de difícil destacamento.

Película: Espessa, grossa.

Nº de graínhas: Elevado (2,4-3 por bago).

Sistema de condução: Adapta-se a qualquer tipo de poda. Recomenda-se poda mista ou em vara, no caso de solos férteis ou quando se pretenda produções mais elevadas.

Solo favorável para obter qualidade: De fertilidade média, com uma certa humidade, altitude baixa e média, localizado em exposições ao quadrante SW e com boa insolação.

Clima favorável: Quente, com boa insolação, mas sensível ao excesso de seca.

Compasso: Todas os intervalos são possíveis, devendo ser adaptados ao solo e ao clima.

Porta-enxertos: Boa afinidade com todos os porta-enxertos tradicionalmente utilizados. Não se recomenda o Montícula.

Desavinho/Bagoinha: Muito pouco susceptível.

Conservação do cacho após maturação: É uma das últimas castas a amadurecer, mas é resistente à podridão e aos raios solares.

Protecção contra ataques de pássaros: Reduzida.

Aptidão para vindima mecânica: Boa aptidão, quando o terreno permite.

Tipo de vinho: Vinho de mesa tinto, vinho do Porto.

Grau alcoólico provável do mosto: Na fase muito tardia, produz vinho de elevado teor alcoólico (12,5°-13,5°). Valores RNSV: 12,98% vol. (média de, no mínimo, 40 cultivares, registada em Tabuaço, durante 6 anos).

Acidez natural: Média/elevada (5-7 g/l). Valores RNSV: 4,71 g/l (média de, no mínimo, 40 cultivares, registada em Tabuaço, durante 6 anos).

Autocianinas totais: Valores RNSV: 521,26 mg/l (média de, no mínimo, 40 cultivares, registada em Tabuaço, durante 3 anos).

Índice de polifenóis totais (280nm) do mosto: 27,90. Valores RNSV: 22,93 (média de, no mínimo, 40 cultivares, registada em Tabuaço, durante 3 anos).

Sensibilidade do mosto à oxidação: Média/alta.

Intensidade da cor: Média, a mais fraca das castas «nobres» do Douro, ganhando intensidade com a idade do vinho.

Tonalidade: Violácea.

Sensibilidade do vinho à oxidação: Elevada, devendo ser protegido do arejamento.

Análise laboratorial dos aromas: Compostos precursores do aroma – Em comparação com as castas nobres tintas do Douro ( análise de 1999), tem baixos valores de concentrações (65 μg/l) em terpenóis livres, responsáveis pelos aromas florais. Destaca-se com 20% o Linalol. Tem teores em ß-Damascenona (1,5 μg/l) e alguns norisoprenóides. Nos dados sensoriais têm maior acidez na boca, são mais vegetais, contendo quantidades mais elevadas de hexanol e citronelol.

Capacidade de envelhecimento do vinho: Só no caso de maturação muito elevada.

Recomendação para lote: Com Aragonez, Tinta Barroca, Touriga Franca ou Touriga Nacional.

Potencial para vinho elementar: Só experimental, mas dá excelentes vinhos.

Caracterização habitual do vinho: «A casta é bastante polémica, pois é capaz do pior e do melhor. Nas zonas onde tem dificuldade de amadurecer, origina vinhos muito abertos de cor, pouco aromáticos, com notas herbáceas degradáveis e delgados na boca. Porém, quando as uvas amadurecem bem, à volta dos 13, 14° de álcool provável, origina vinhos perfeitamente deslumbrantes. A sua cor é retinta e os seus aromas penetrantes, com misto de flores silvestres e frutos vermelhos, onde sobressaem as notas de groselha e framboesa; mas é na boca que os vinhos desta casta mais impressionam, devido aos seus taninos, ao mesmo tempo poderosos e redondos, em perfeito equilíbrio com os ácidos e com a delicada estrutura aromática. são pois vinhos de extrema elegância e longevidade, com um toque de feminino que se prolonga na boca por muito tempo». (V. Loureiro, 2002).

Qualidade do vinho: No caso de boa maturação, muito elevada. Em idênticas condições às outras grandes castas do Douro, nem sempre alcança em todos os anos o nível qualitativo superior.

Particularidade da casta: A casta é facilmente reconhecível pela característica cor verde-pálida das folhas. Maturação tardia, das ultimas castas a ser vindimadas no Douro e no Dão. Os bagos têm resistência aos raios solares e às chuvas de setembro. A qualidade do vinho pode variar, de muito elevada no caso de condições edafo- climáticas adequadas, a médio em determinados anos e/ou terroirs.

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