Alta Idade Média

Em Aragão, desde os anos 500 a. C., escreve Leocadio Machado (citado por L. Hidalgo 1999): “Nesta região viveram Celtas independentes e de grande desejo de liberdade. A base de alimentação foi a carne e o vinho com doçura de mel.” No século XII d. C., a viticultura passou a ser um factor comercial importante. O clero e a nobreza tiveram uma grande importância neste ramo; as variedades Cariñena, Garnacha tinta e branca, tal como a Viura, foram conhecidas desde muito cedo.

Castilla y León foi descrita por Estrabão como região seca, com pouca florestação em zonas mais húmidas. Estava convencido de que os habitantes celtas desse tempo não conheciam a viticultura. A. Huetz de Lemp (2005: 124) supõe que nesta região a viticultura foi introduzida pelos Romanos. Sabe‑se que, mais tarde, pelos Visigodos, houve viticultura nas margens do rio Douro, e ainda que, no final da era medieval, esta cultura se alargou na região. O friso de pedra visigodo em Santa María de Quintanilla de las Viñas, perto de Burgos (ver fig. 46), tal como a iconografia das bibliotecas conventuais do Norte da província (ver fig. 73 – próximo capítulo), actualmente na biblioteca do Museu Universitário de Valadollid, comprovam isso. Alain Huetz refere que, após a degradação da dinastia Omíada, a viticultura se expandiu fortemente.

Na Catalunha, a viticultura é conhecida desde a actividade comercial grega. Muito cedo a região foi influenciada pelo comércio de vinho da Massilia (Marselha). Ainda hoje se pode observar uma antiga construção militar romana, escavada por baixo da catedral de Barcelona, no Bairro Gótico, na qual existia mesmo uma adega. Plínio, na sua obra Historia natural, refere‑se à viticultura desta região. Os vinhos eram transportados por barcos, a partir de Tarragona, mas também da região de Penedès e do Priorado, para Roma, mas também por via terrestre, pela Via Augusta. As castas espanholas, em Roma, foram consideradas como de melhor qualidade do que as castas etruscas, as quais tinham tendência a ser bastante ácidas. As castas Xarello e Mercastre foram um padrão, a variedade Malvasia entrou posteriormente vinda da Grécia, quanto à Macabeu presume‑se uma relação com os Macabeus da Bíblia. Refere‑se uma idade superior a 1.000 anos para estas variedades.

Castilla – La Mancha. Tito Lívio cita uma povoação romana com viticultura (184 d.C.). No tempo dos Árabes, fala‑se da existência de uma bula no Califado de Toledo, necessária devido às limitações relativamente ao vinho e ao regulamentando contra a “manipulação” deste. Mais tarde, no âmbito da Reconquista, em 1150 d. C., quando o rei Afonso VII de Castela transferiu terras para os Templários, isso foi condicionado ao pagamento de uma quinta parte. Os vinhos de Valdepeñas foram considerados, juntamente com os de Toledo, Cuenca, Ranera e Santorcaz, como de superior qualidade. A variedade Airen, já no final da época medieval, foi descrita por Herrera como Lairen.

Andaluzia. Está comprovado que culturas pré‑históricas e pré‑romanas aqui se instalaram e se dedicaram à vitivinicultura. Tartéssios, posteriormente Fenícios (a partir de sec. XI a. C.) com a fundação de Cádis, depois Gregos aqui se instalaram, estes igualmente na Catalunha, tal como os Cartagineses. Todos trouxeram as suas próprias castas bem adaptadas ao clima quente desta região. Guillen Robles, in Historia de Málaga y su província, pensa que os Gregos, já em 600 a. C., se instalaram em Málaga, sendo eles que ensinaram a poda correcta das videiras. Columela (De Agricultura – Re Rustica) pensa que a variedade romana Falerno seria plantada na região de Jerez.

Melhores vestígios da viticultura dos Romanos existem na Hispania Ulterior Baetica, em cidades como Sevilha, Córdova, Cádis e Málaga, por eles fundadas ou ampliadas. Encontraram‑se ânforas de barro e mosaicos com motivos da videira, p. ex., em Montilla‑Moriles. O porto de Cádis tem fama de ser o segundo maior porto para exportação de vinho, após o de Tarragona. Vândalos e Visigodos, dos quais se sabe terem bons conhecimentos sobre viticultura, seguiram‑se aos Romanos.

Do tempo da ocupação sueva e visigótica existem apenas algumas referências sobre conhecimentos vitícolas. No Museu Arqueológico de Odrinhas (Sintra) encontram‑se duas pedras de prensa de vinho do século VI d. C.. Há ainda duas colunas com motivos de uvas, desse tempo, nos Museus de Sintra e de Beja. Henar Gallego Franco regista que, conforme a Lex Visigothorum, as vinhas (Vineae) a fruta/uva (Fructus vineae), e a vindima (Vindimia), bem como o vinho (Vinum), foram referidos de forma objectiva, com directivas claras. Assim, foi descrito o tipo de vinha e o solo no qual deveria ser plantada. Este autor conclui que uma viticultura similar à dos Romanos, representativa desta época, foi a cultura mais utilizada na agricultura.

As vinhas foram explorações comerciais dadas como feudo, vendidas ou arrendadas. No segundo Concílio de Toledo, no ano de 527 d. C., foi regulamentada a posição particular das vinhas do clero. O pagamento do feudo foi referido no 13.º Concílio de Toledo, em 683 d. C.. Foram regulamentadas as cercas, a criação de valas ao lado dos  caminhos direitos, de granito, para evitar a passagem de animais ou ladrões, além da instalação de uma nova vinha. A vindima foi limitada no tempo, decorrendo de 15 de Setembro a 15 de Outubro. No ano 516 d. C., no Concílio de Tarragona, o consumo de vinho ainda foi considerado um privilégio de pessoas favorecidas. Peñín (2008: 134) menciona o edictum de frutis relaxatis do rei visigótico Eruvígio, de 683 d. C., pelo qual o vinho perdeu a imagem hedonista dos tempos romanos e foi considerado parte da alimentação diária.

Diga‑se que, neste período, foram instaladas muitas vinhas, mesmo até altitudes de 1.000 m acima do nível do mar. A viticultura visigótica foi orientada para uma alta produção e envolveu mão‑de‑obra muito numerosa. Os primeiros regulamentos do Codigo Visigota dos Euricos (Peñín, 2008: 151) determinavam que quem arrancasse uma cepa tinha obrigação de substituí‑la por uma outra.

Gallego (2000: 202) refere diferentes tipos de vinho: Layetanos, Lauronenses e Baleáricos. Também fala de Tarraco e de Tarraco Lauro, mas não é possível reconhecer uma consciência varietal.

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